Em julho de 2025 o governo norte‑americano anunciou que a maior parte dos produtos brasileiros importados pelos EUA pagaria uma tarifa adicional de 40 %, somada a um direito antidumping de 10 % que já vigorava desde abril. A medida, que entrou em vigor em 6 de agosto de 2025, elevou as tarifas para 50 % em mais de três mil itens exportados pelo Brasil e foi apresentada pela Casa Branca como retaliação política ao processo judicial contra o ex‑presidente Jair Bolsonaro. Após pressões de empresas dos dois países e de diplomatas brasileiros, a ordem executiva de Donald Trump incluiu 694 exceções abrangendo bens estratégicos como aeronaves, petróleo e celulose, reduzindo o impacto efetivo para cerca de 30,8 % das vendas. A lista de exceções corresponde a 45 % dos embarques brasileiros; outros 20 % já estavam sujeitos a regimes específicos (como aço e alumínio). Ainda assim, cerca de 35,9 % das exportações brasileiras para os EUA passaram a ser taxadas com 50 %, afetando diretamente algumas cadeias produtivas.
Setores mais afetados
Café e cacau
• O Brasil é o maior produtor mundial de café e destina cerca de 30 % das suas exportações de café aos EUA】. Como o produto ficou de fora das 694 exceções, os embarques passaram a pagar 50 % de tarifa, tornando o produto menos competitivo no mercado americano. Consultorias estimam que o café poderá ficar 40 % mais caro para consumidores norte‑americanos. Cacau e derivados também não foram excluídos】.
• A cadeia cafeeira depende fortemente de exportações; agricultores buscam redirecionar parte da produção para mercados asiáticos e europeus, mas no curto prazo a medida pressiona preços e margens.
Carne bovina e suína
• Carnes (bovina, suína e aves) ficaram de fora das exceções. Os EUA compram cerca de 12 % da carne produzida pelo Brasil e a tarifa deve reduzir as vendas. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) prevê perda de US$ 1 bilhão no segundo semestre.
• Com menor demanda externa, parte da produção pode ser desviada para o mercado interno ou países como China, pressionando preços domésticos e exigindo novas estratégias logísticas.
Açúcar, etanol e suco de frutas não cítricas
• Açúcar e etanol, pilares do agronegócio brasileiro, não foram incluídos nas exceções iniciais. O setor de açúcar teme perda de competitividade frente a produtores da América Central e do México.
• Frutas como mamão, banana, abacaxi e derivados (suco de abacaxi, água de coco) também ficaram sujeitos à tarifa. Estados do Nordeste, como Bahia e Paraíba, que exportam bebidas e frutas processadas, calculam queda de aproximadamente 0,27 % no PIB local (cerca de R$ 1,3 bilhão) e alertam que 210 mil empregos dependem dessas exportações.
• Produtos da pesca (camarão, peixes frescos), especiarias como pimenta e gengibre e frutas tropicais não entraram na lista de exceções, prejudicando pequenos produtores, principalmente no Espírito Santo. No caso de peixes, 87,7 % das exportações capixabas têm como destino os EUA.
Calçados, têxteis e manufaturas gerais
• O tarifácio abrange diversos bens industriais, incluindo calçados, têxteis, artigos de couro e produtos de granito e ardósia【868221205285922†L159-L166】. Pequenas e médias indústrias que exportam para redes varejistas norte‑americanas enfrentam imediata perda de competitividade e podem ter de suspender contratos.
Siderurgia (aço) e metais não ferrosos
• A nova medida de 50 % não revogou a tarifa global de 25 % aplicada desde 2018 sobre aço sob a Seção 232. Logo, produtos semiacabados, chapas e tubos continuam pagando 50 %. Consultorias afirmam que, apesar da tarifa elevada, as exportações de aço para os EUA podem continuar devido ao déficit de produção local e aos altos preços internos.
• A tarifa adicional também incide sobre cobre refinado, alumínio e derivados de ferro que não foram contemplados nas exceções. Isso pressiona minas e metalúrgicas, embora a retirada do cobre da lista nos últimos dias de julho tenha provocado alívio momentâneo.
Setores que escaparam do tarifácio
Apesar do impacto amplo, a pressão de empresas norte‑americanas e a diplomacia brasileira conseguiram incluir 694 produtos na lista de exceções. Entre os setores beneficiados:
Aviação
• Aeronaves e peças — principal item de exportação da Embraer para os EUA — foram incluídas na exceção. A Embraer continuará pagando apenas a tarifa de 10 % instaurada em abril, já que a sobretaxa de 40 % foi removida.
• A exclusão preserva contratos de venda de jatos regionais e aviões agrícolas para companhias aéreas e arrendadoras norte‑americanas.
Energia e minerais
• Petróleo e combustíveis: os embarques de petróleo bruto, suspensos preventivamente em julho, foram retomados após o produto ser retirado da lista adicional.
• Minérios e metais básicos: A câmara setorial Ibram afirmou que as exceções cobrem 75 % das exportações de mineração. Minérios de ferro (aglomerado e não aglomerado), bauxita, estanho e alumina estão isentos.
• Fertilizantes: nitrato de amônio, ureia e adubos químicos foram incluídos na lista devido à dependência do agronegócio norte‑americano.
Celulose e papel
• O setor de celulose (pulp) — em que o Brasil é líder global — foi preservado. A remoção do produto da lista adicional impede uma queda estimada de 20 % nas exportações e alivia empresas como Suzano e Klabin. Papel e derivados também ficaram isentos, mantendo a competitividade das exportações brasileiras de short‑fiber pulp usada na produção de tissue e embalagens nos EUA.
Suco de laranja e cacau
• Embora frutas tropicais tenham sido tarifadas, o suco de laranja (produto emblemático da Flórida) foi excluído após lobby de multinacionais. Esse alívio beneficia citricultores do interior de São Paulo, responsáveis por boa parte do concentrado exportado.
• Derivados de cacau (manteiga, pó) foram retirados da lista após negociações, preservando margens de grandes processadoras, embora o grão em si continue tarifado.
Outros produtos excluídos
• Equipamentos médicos, instrumentos de medição e componentes de tecnologia de precisão.
• Óleos e gorduras vegetais específicos, nozes e castanhas, madeiras tropicais e alguns produtos químicos.
• Peças de máquinas agrícolas e equipamentos de irrigação.
Perspectivas e estratégias para o Brasil
A lista de exceções reduziu o impacto imediato do tarifácio, mas 35,9 % das exportações brasileiras aos EUA permanecem sujeitas ao tributo Estados exportadores como Espírito Santo, Bahia e Paraíba alertam para efeitos sociais e econômicos relevantes. Diante deste cenário, empresas e corretores de seguros podem adotar algumas estratégias:
1. Diversificar mercados: Aproveitar demanda crescente em Ásia, Oriente Médio e América Latina para café, carnes e frutas, evitando dependência dos EUA.
2. Agregação de valor: Investir em transformação industrial (torrefação de café, cortes premium de carne, conservas) para reduzir sensibilidade ao preço e captar margens maiores.
3. Gestão de risco e seguro de crédito: A volatilidade cambial e o risco de inadimplência aumentam quando os exportadores precisam renegociar contratos e buscar novos clientes. Seguro de crédito e seguro garantia tornam‑se ferramentas essenciais para proteger receitas e contratos. A Traderisk, como hub especializado, está preparada para assessorar empresas na contratação desses instrumentos e no entendimento das exigências do mercado internacional.
4. Advocacy e diplomacia: Setores prejudicados (café, carne, frutas) continuam pressionando o Itamaraty e as associações setoriais para ampliar as exceções e firmar acordos bilaterais.
Conclusão
O tarifário imposto pelos EUA contra o Brasil em 2025 representa uma mudança significativa no comércio bilateral e evidencia a importância de preparar‑se para cenários adversos. Embora a exclusão de 694 produtos, incluindo aeronaves, energia, celulose e minerais, tenha reduzido o impacto efetivo, setores como café, carnes, açúcar, frutas tropicais e calçados enfrentam um choque de competitividade. A resposta brasileira deve combinar diplomacia, diversificação e inovação, ao mesmo tempo em que utiliza instrumentos como seguro de crédito e garantia para proteger fluxos de caixa e contratos. Em um contexto de incertezas, cabe às empresas enxergar a crise como oportunidade de reinventar sua presença no mercado internacional e reforçar parcerias estratégicas.
#SeguroGarantia #TraderiskBR #SegurodeCredito